segunda-feira, 14 de junho de 2010

(Escrevemos isso outro dia e iríamos deixar para postar amanhã, mas, como a Revista Bula fez algo similar (aqui), não quis deixar que parecesse que tínhamos roubado a ideia.)

Antecipando pautas

Por que o Brasil perdeu a Copa
Por Milly Lacombe

1) Dunga confundiu raça com totalitarismo. Ao buscar apagar aquela imagem de estrelismo e displicência de 2006, impôs regime ditatorial à seleção. Conseguiu formar um grupo fechado, carrancudo e raçudo, mas esqueceu que seria preciso ter variação tática, leveza e ginga para chegar ao topo.

2) O Brasil não sabe mais tocar a bola. O retrato da tragédia pôde ser visto contra a Tanzânia, ainda nos amistosos preparatórios, quando, mesmo diante de um adversário tecnicamente muito fraco, a seleção não foi capaz de executar nenhuma triangulação, nenhuma troca de bola, nenhuma jogada de efeito.

3) Não temos variação tática. Tá certo que o recurso de jogar fechado e sair no contra-ataque é legítimo em determinadas circunstâncias, mas não ter outros recursos táticos e estratégicos fora esse, e numa Copa do Mundo, é morte precoce na certa.

4) Kaká não é armador. Não adianta tentar fazer com que ele tenha a maestria de Alex, Zico, Riquelme, Zidane. Kaká é ponta de lança, bom finalizador, mas jamais será o maestro do time. Ao colocar ele nessa função, o que vimos foi um time sem criatividade e sem armação.

5) Ganso fez falta. Esse era o cara. Ganso é maestro, faz a bola girar, dá ritmo ao jogo, encontra espaços onde parecia não haver nada. Poderia ter nos salvado.

6) Não temos um Messi. Infelizmente, não temos um jogador com os recursos técnicos do argentino, eleito o melhor jogador da Copa. Um cara que consegue se desmarcar como nenhum outro, que faz o papel do armador quando é preciso, que finaliza bem e que confere ao jogo o sentido de arte, seja em um drible, em um lançamento ou em um gol por cobertura.

7) Nos tornamos caretas. Um time que joga de forma careta, estilo papai-mamãe, pode, claro, chegar ao topo. Mas há uma certa poesia quando não conseguem prevalecer. Não há como ser herói e conservador. Todos os heróis da história foram transgressores.

8) Não somos mais tão temidos. Faz 20 anos que não conseguimos jogar como sempre jogamos: criativamente, com dribles e ginga. Vivíamos de temor histórico, mas outras seleções acabaram percebendo que não éramos mais os mesmos e o peso da amarelinha diminuiu.

9) Trocamos o complexo de vira-lata pelo complexo de pitbull. Uma coisa é não nos acharmos merecedores da admiração alheia. A outra é acharmos que somos tão fortes, invencíveis e poderosos que não precisamos sequer estudar o adversário. A derrota para a Costa do Marfim talvez tenha aberto a ferida.

10) A roupa do Dunga. Aquela camisa amarela de bolas verdes debaixo do paletó azul de listas brancas deve ter ofuscado alguns jogadores durante a derrota de 3x0 para o Chile. Só isso explica Michel Alves ter simplesmente parado de correr abruptamente e levado às mãos aos olhos no lance do segundo gol chileno, justamente quando passava bem à frente ao banco brasileiro.

Por que o Brasil venceu a Copa
Por Maurício Svartman

1) Uma seleção hermética
Após o fracasso com o circo de 2006, quando a imprensa teve acesso total aos jogadores, a CBF decidiu mudar tudo: um técnico de estilo militar, duro e inflexível com a imprensa. Deu certo: os jogadores tiveram mais foco e puderam se concentrar exclusivamente na Copa

2) Apelo popular? Aqui não
Assim como Felipão com Romário em 2002, Dunga não deu ouvidos aos apelos da imprensa e do povo brasileiro: deixou Ronaldinho Gaúcho, Ganso e Neymar de fora, dando preferência a lealdade e comprometimento e deixando de lado a "molecagem"

3) Jogo bonito é jogo eficiente
O belo e ofensivo futebol apresentado por Argentina, Espanha e Holanda não alteraram em nada a convicção de Dunga no esquema "defesa e contra-ataque". Antes da Copa, o triunfo da Internazionale sobre o Barcelona na Liga dos Campeões já tinha demonstrado que aquele era o rumo a ser seguido, o que deu confiança ao técnico brasileiro

4) Kaká
O meia brasileiro deixou claro por que foi escolhido um dos melhores jogadores do mundo nas últimas temporadas: suas arrancadas e seus gol foram decisivos para os momentos de falta de criatividade da Seleção

5) Chave fácil
O que deveria ser um grupo da morte se mostrou um caminho fácil para o entrosamento da Seleção. Portugal e Costa do Marfim não deram trabalho, assim como o Chile nas oitavas-de-final. A partir da vitória sobre a Holanda, nas quartas, o Brasil já tinha "aquecido". Enquanto isso, Argentina, Espanha, Itália e Alemanha se matavam do outro lado da chave

6) Defesa forte
Júlio César, Lúcio e Juan confirmaram o posto de melhor defesa do mundo. Os buracos deixados por Michel Bastos na estréia contra a Coreia do Norte foram fechados com a entrada de Gilberto, corrigindo o único defeito da retaguarda brasileira.

2 comentários:

  1. Nem um, nem outro tem razão, muito pelo contrário.

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  2. Ah, é, esquecemos de fazer a versão @oclebermachado.

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