sábado, 5 de junho de 2010
quarta-feira, 2 de junho de 2010
A importância de ser Kaká
Kaká é uma unanimidade. Cronistas esportivos, de A a Z, não mencionam seu nome sem antes adjetivá-lo com um elogio. É o bom moço, o craque, o jogador indispensável. Kaká representa, com pompas, sobras e dízimos, o futebol moderno. Talvez seja de fato seu filho mais pródigo.
Kaká domina como poucos os grandes espaços. É o cara da arrancada fenomenal, o homem vertical, o pulmão de aço. Tem chute certeiro e sabe se posicionar. A imagem de bom moço que o acompanha fora de campo também está a seu serviço durante o espetáculo: raramente faz faltas, quando é duramente marcado não sai dando pontapés e falando impropérios aos rivais, é expulso em ano bissexto e não peita juiz.
Mas a genialidade de Kaká ocorre em condições muito especiais de jogo. Ocorre, por exemplo, quando o time de Kaká joga atrás e opta por explorar o contra-ataque. Aí Kaká, com a bola nos pés, faz e acontece, rompendo como um raio em direção ao campo oposto. É duro marcá-lo, é duro acompanhá-lo e igualmente duro defender seu chute ou interceptar uma assistência nessas condições.
Por outro lado, o futebol de Kaká não domina os pequenos espaços como, por exemplo, faz o de Ronaldinho Gaucho, Ronaldo, Cristiano Ronaldo e Messi. Quando o time de Kaká joga pressionando o adversário, Kaká vira um simples mortal. Kaká não é o cara do drible curto, da jogada inesperada, da pedalada, da irreverência.
Exatamente por isso ele é o craque do tal futebol moderno - um futebol extremamente defensivo, que prefere contra-atacar a atacar, que prefere encontrar os grandes espaços a buscar criatividade para administrar os pequenos, que prefere, enfim, o careta à liberdade.
A rara exceção nesse universo de grandes sistemas defensivos atual é o time do Barcelona, no qual Kaká dificilmente brilharia. O Barcelona de Xavi, Iniesta e Messi defende com 11 jogadores e ataca com 10. Messi e seus companheiros dominam os pequenos espaços, criam jogadas em lugares do campo onde parece não haver vida, começam a marcar no campo de ataque a partir do momento que a bola é perdida - todos juntos, como em um saudável devaneio de Rinus Mitchell, treinador que fez história com o carrossel holandês da década de 70.
Entre Mitchell e Dunga há um oceano de campos de futebol. Dunga é o volante raçudo que prefere destruir do que construir. Com Dunga, o Brasil aprendeu a jogar encolhido para sair no contra-ataque. Seja contra a seleção do Zimbábue ou contra a Alemã. Com Dunga o resultado passou a ser muito mais importante do que o espetáculo. Ronaldinho Gaucho não é craque nesse sistema de jogo. Mas Kaká é. E não pode deixar de ser convocado se a ideia é explorar os grandes e tentadores espaços do contra-ataque - circunstância que pode dispensar Gaúchos, Messis e Ronaldos acima do peso.
Esse será o Brasil da África do Sul. Para quem gosta do resultado acima de qualquer risco, um time admirável. Para quem entende o futebol como espetáculo, um time que, mesmo campeão, não ficará na memória. Se, entre 11 de junho e 11 de julho, esse Brasil de Dunga prevalecer, Kaká será seu comandante e herói. E Messi, Cristiano Ronaldo, Iniesta, Rooney e Ronaldinho Gaúcho ficarão, pelo durante esse ciclo do futebol, à sombra do craque do futebol moderno e careta.
1950 (vice-campeão)
brasil 3x4 uruguai
brasil 2x0 paraguai
brasil 3x3 paraguai
brasil 3x2 uruguai
brasil 1x0 uruguai
brasil 6-4 Seleção do Rio Grande do Sul
brasil 4-3 Seleção de Novos de São Paulo
1954 (caiu nas quartas de final)
brasil 4-1 Combinado Colombiano
brasil 2-0 Combinado Colombiano
1958 (campeão)
brasil 5x1 paraguai
brasil 0x0 paraguai
brasil 4x0 bulgária
brasil 3x1 bulgária
brasil 5x0 corinthians
fiorentina 0x4 brasil
1962 (campeão)
brasil 6x0 paraguai
brasil 4x0 paraguai
brasil 2x1 portugal
brasil 1x0 portugal
brasil 3x1 país de gales (maracanã, e não milão como diz a fifa)
brasil 3x1 país de gales
1966 (não passou da 1ª fase)
brasil 3x1 país de gales
brasil 1x1 chile
brasil 1x0 país de gales
brasil 1x0 chile
brasil 4x0 peru
brasil 4x1 polônia
brasil 2x1 polônia
brasil 3x1 peru
brasil 2x1 tchecoslováquia
brasil 2x2 tchecoslováquia
atlético de madrid 3x5 brasil
escócia 1x1 brasil
atvidaberg (sue) 2x8 brasil
suécia 2x3 brasil
aik (sue) 2x4 brasil
malmöe (sue) 1x3 brasil
1970 (campeão)
brasil 0x0 paraguai
brasil 1x0 áustria
1974 (4º colocado)
brasil 1x0 bulgária
brasil 2x0 romênia
brasil 4x0 haiti
brasil 0x0 grécia
brasil 0x0 áustria
brasil 2x1 irlanda
brasil 2x0 paraguai
1978 (3º colocado)
frança 1x0 brasil
alemanha 0x1 brasil
inglaterra 1x1 brasil
brasil 3x0 peru
brasil 2x0 tchecoslováquia
1982 (caiu nas quartas)
brasil 3x1 portugal
brasi 1x1 suíça
brasil 7x0 irlanda
1986 (caiu nas quartas)
brasil 4x0 peru
brasil 3x0 alemanha oriental
brasil 4x2 iugoslávia
brasil 1x1 chile
1990 (caiu nas oitavas)
brasil 2x1 bulgária
brasil 3x3 alemanha oriental
1994 (campeão)
brasil 3x0 islândia
canadá 1x1 brasil
honduras 2x8 brasil (em san diego)
honduras 0x4 brasil (em fresno)
1998 (vice-campeão)
brasil 0x1 argentina
2002 (campeão)
portugal 1x1 brasil
malasia 0x4 brasil
2006 (caiu nas quartas)
brasil 4x0 nova zelândia (em genebra)
segunda-feira, 31 de maio de 2010
A parada de 38 dias do Campeonato Brasileiro não deve ser encarada como férias para os clubes. Em 2006, após acumular vexames e apenas 4 pontos nos 10 primeiros jogos, o Palmeiras reagiu na volta da Copa e fugiu do rebaixamento com uma bela arrancada. Tite, que havia assumido na 7ª rodada, reorganizou a equipe e voltou com meio time alterado. Já o Cruzeiro, que liderava o torneio, voltou apagado e terminou 10º lugar.
Confira a tabela do Brasileirão-2006 (clique para ver maior):
No papo, tão careta quanto na bola
Estamos sem notícias da África do Sul. Temos um enorme contingente jornalístico por lá, mas faz quatro dias que falamos da bola da Copa e de nada mais. Ok, tem também a enigmática contusão de Kaká, Kaká evitando divididas, Kaká fazendo bico depois de entrada mais dura de Felipe Melo, Kaká jogando golfe na folga e voltando cedo para a concentração, Kaká de bom humor no treino. Mas é isso. Fragmentos de informação. Fragmentos desinteressantes de informação.
Pior: falamos à exaustão da bola da Copa, já um personagem nessa história, sem dizer se o atleta que a critica ou a elogia é patrocinado pela fabricante da bola (Adidas) ou por concorrentes. Essa sim, uma informação relevante. Porque, como tuitou ontem o jornalista e professor Edson Rossi, até que um atleta da Adidas critique a bola ou um atleta da Nike ou de outros concorrentes a elogie, não teremos notícia. Como nota deslocada de rodapé, vale dizer que a Nike é uma das patrocinadoras da seleção brasileira.
Fora isso, o que recebemos de lá são as excitantes repercussões das coletivas de imprensa, nas quais atletas e membros da comissão técnica são forçados a sentar naquela mesa em pedestal e, entre uma bufada e outra, responder a perguntas que eles deixam muito claro achar abobadas, tolas, invasivas. Salvo um ou outro jornalista que dispara questão mais direta, invocando a ira do palestrante, nada de muito animado acontece ali; não há como esperar uma pequena reflexão, uma frase que nos faça pensar, um diálogo construtivo, uma divertida insubordinação. Trata-se de um grupo, no verbo e no campo, absolutamente previsível. Tão previsível que, em desespero, jornalistas já começam a se entrevistar entre si.
E tão previsível que, quando Felipe Melo, que não é patrocinado pela Adidas, chama a bola de patricinha faz-se um alvoroço e saem todos correndo para mandar a genial e nada sexista aspa-que-vai-virar-manchete para as redações. Cinco minutos depois, lá está ela, em corpo grande, oferecida como informação para todos nós. Em terra de aspa inócua, uma simplesmente idiótica soa mesmo como notícia bombástica.
Mas tudo corre como programado; o que vemos, mais uma vez, é a coerência desse grupo: careta na bola e no papo. Diante da falta qualquer notícia interessante, que comecem logo as rodinhas de bobo, narradas e comentadas. Pelo menos veremos a bola, esse personagem sempre tão central, em ação.