quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O caso Flusa e o "sportsmanship"

Me parece claro que o caso Flu-Lusa foi decidido pela política. Li ótimos textos sobre a parte jurídica, como este, do Gustavo Poli, e este, de José Augusto Garcia de Sousa. Outras leituras fundamentais tratam da grandeza do Flu, como esta, da Milly Lacombe, e esta, do Leandro Beguoci.

A Portuguesa foi rebaixada porque é um clube menor que o Fluminense. Mas não vim falar disso.

O que me incomodou nesse processo foi ter lido que "qualquer clube faria o mesmo" -- e ter concordado. Algumas semanas antes, o São Paulo (meu time) impediu a Ponte Preta de jogar em casa porque o regulamento previa que seu estádio deveria ter no mínimo 20 mil lugares, e só tinha capacidade para 19.700 pessoas. É legal, mas é moral? Mesmo que tivesse vencido, teria valido a pena?

Os ingleses fazem uso constante do termo sportsmanship, algo como espírito esportivo ou fair play. A expressão denota que, no esporte, a vitória não deve vir a qualquer custo. É o que move os torcedores ingleses a vaiar jogadores que tentam cavar pênaltis. E o que fez o Arsenal, no fim dos anos 90, oferecer jogar de novo uma partida ganha depois de marcar um gol desobedecendo o fair play numa cobrança de lateral (aqui). Ou, recentemente, um juiz anular um gol do Norwich pelo mesmo motivo (aqui).

A imagem que define o sportsmanship é uma das fotos mais icônicas do esporte no século passado. Os italianos Gino Bartali e Fausto Coppi, os dois maiores ciclistas da época (bom texto sobre a rivalidade aqui), compartilham uma garrafa d'água em plena disputa de Tour de France.

(Fazendo um paralelo com o futebol, no jogo em que a Argentina eliminou o Brasil da Copa de 1990, os hermanos deram uma garrafa d'água com sonífero para o lateral Branco, como admitiu Maradona aqui.)

Vale vencer jogando sujo? Do ponto de vista do clube, há muito dinheiro envolvido. Se a Lusa teve seus direitos de TV diminuídos de R$ 21 milhões para R$ 4 milhões com o rebaixamento, imaginemos quanto teria perdido o Flu. Há uma eleição da CBF chegando e mil outros interesses que nunca saberemos.

Mas vale comemorar? As imagens dos torcedores tricolores soltando fogos em frente ao tribunal assolarão o clube por décadas a fio. É o correspondente esportivo à dancinha de Ângela Guadagnin.

Torcemos por um clube por um único motivo: pertencermos a algo. Se não houvessem torcedores de outros clubes, torcer não faria sentido. O que dá mais orgulho: ver o seu time oferecer a vitória a quem ganhou jogando limpo ou perder em campo mas vencer fora dele? O que te faz chegar de cabeça erguida no trabalho e olhar para torcedores rivais?

Torcedor, a escolha é simples:
a) Passar anos justificando aos rivais (e a si mesmo) que o regulamento foi cumprido
b) Olhar para os rivais e dizer: "Não precisamos disso. Venceremos em campo. Limpo."