domingo, 8 de agosto de 2010

Profeta Muricy

Sempre gostei do Muricy. Quando ele voltou ao São Paulo, falei: "quero este cara por 10 anos no meu time." Homem íntegro, profissional dedicado, transparente. Alguns anos antes, quando eu era um estagiário e cobria o São Caetano, lembro de um treino no qual eu era o único jornalista presente. Fiz algumas perguntas ele foi direto (grosso?). Pensei: "só porque eu sou estagiário". Dias depois, com vários jornalistas presentes, ele foi igualmente grosso (direto?) com gente de grandes veículos. O cara não muda de acordo com a situação, pensei. Sempre gostei dele.

Veio o tricampeonato brasileiro e, mesmo em 2007, ano da defesa intransponível, eu não tinha gosto em ver o São Paulo jogar. Era um futebol eficiente, mas feio. E eu queria a volta de um Tricolor de anos anteriores, mesmo pós-Telê, em 1998, 2000, que encantava (mas só ganhava Paulistinhas). Mesmo assim, sempre defendi o Muricy. Mesmo com as sucessivas quedas em Libertadores. (Tenho a teoria de que há técnicos motivadores, bons para mata-mata, e técnicos de longo prazo, bons para pontos corridos. Muricy de hoje e Luxemburgo de outras épocas seriam os melhores exemplos do segundo caso, Felipão do primeiro. Para a Seleção, claro, o melhor é o técnico motivador.)

Muricy costuma dizer que passa suas horas vagas vendo jogos europeus. É um baita estudioso do futebol. Está sempre a par das inovações táticas que surgem lá fora. Não se espelha no Barça, está mais para a Inter.

Hoje percebo que Muricy foi um dos primeiros por aqui, e de longe o mais competente, a antever o que vimos na última Copa do Mundo. Ele sabia, já em 2006 – ou antes, no Inter –, que estávamos no começo da segunda era do futebol total. Mas hoje, em vez de todos defenderem e atacarem e trocarem de posição a todo momento, todos marcam incessantemente o campo todo. É o futebol total da defesa. É feio. E tem ganhado títulos.

Muricy baseou seu São Paulo nos volantes, e teve uma bela safra, com Mineiro e Josué, Richarlyson, Jean e Hernanes. Abriu mão dos centroavantes – teve de aceitar Adriano (quem não aceitaria?) e viu o Imperador ter uma bela performance pessoal, mas arruinar a tática que vinha funcionando. Depois o São Paulo ainda teria Washington, outro com boa média de gols, mas ruim para o esquema da equipe. (No hiato de títulos que o São Paulo teve, imperaram os artilheiros: Dodô, França, Luís Fabiano, Grafite...)

Luxemburgo parou no tempo. Duvido que ainda estude futebol ou atualize suas táticas, outrora vencedoras. Felipão segue sendo mais motivador que qualquer outra coisa, mas está ainda mais atrasado. O Santos de Dorival Jr. é baseado em talentos, lembra mais a Argentina da Copa que o Barça. E Muricy lidera outro Brasileirão. E segue grosso (direto?). Sempre gostei dele.

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Os técnicos do São Paulo que acompanhei, em ordem de preferência PESSOAL:

1) Telê Santana (1990-1995)
2) Muricy Ramalho (1996, 1996-1997, 2006-2009)
3) Leão (2004-2005) - grande mala, mas preparou o time que viria a ser campeão mundial
4) Cuca (2004) - semblante loser, mas grande motivador, vi belas viradas
5) Levir Culpi (2000) - ótimo time vice da Copa do Brasil
6) Dario Pereyra (1997-1998) - muito gente boa
7) Roberto Rojas (2003) - idem
8) Nelsinho Baptista (1998, 2001-2002) - final do Paulistão-1998 foi linda
9) Oswaldo de Oliveira (2002-2003) - 10 vitórias seguidas no Brasileirão-2002
10) Paulo Autuori (2005) - campeão da Libertadores e Mundial? nunca me convenceu
11) Ricardo Gomes (2009-2010) - burro. só não fica mais p/ baixo pela reação em 2009
12) Vadão (2001) - nem lembro direito
13) Parreira (1996) - chegou falando em jogar no 3-7-0. foi derrubado pelos jogadores.
14) Paulo César Carpegiani (1999) - medíocre
15) Mario Sergio (1998) - ah, o horror... e ainda proibiu Ceni de bater faltas.