quarta-feira, 2 de junho de 2010

A importância de ser Kaká

Kaká é uma unanimidade. Cronistas esportivos, de A a Z, não mencionam seu nome sem antes adjetivá-lo com um elogio. É o bom moço, o craque, o jogador indispensável. Kaká representa, com pompas, sobras e dízimos, o futebol moderno. Talvez seja de fato seu filho mais pródigo.

Kaká domina como poucos os grandes espaços. É o cara da arrancada fenomenal, o homem vertical, o pulmão de aço. Tem chute certeiro e sabe se posicionar. A imagem de bom moço que o acompanha fora de campo também está a seu serviço durante o espetáculo: raramente faz faltas, quando é duramente marcado não sai dando pontapés e falando impropérios aos rivais, é expulso em ano bissexto e não peita juiz.

Mas a genialidade de Kaká ocorre em condições muito especiais de jogo. Ocorre, por exemplo, quando o time de Kaká joga atrás e opta por explorar o contra-ataque. Aí Kaká, com a bola nos pés, faz e acontece, rompendo como um raio em direção ao campo oposto. É duro marcá-lo, é duro acompanhá-lo e igualmente duro defender seu chute ou interceptar uma assistência nessas condições.

Por outro lado, o futebol de Kaká não domina os pequenos espaços como, por exemplo, faz o de Ronaldinho Gaucho, Ronaldo, Cristiano Ronaldo e Messi. Quando o time de Kaká joga pressionando o adversário, Kaká vira um simples mortal. Kaká não é o cara do drible curto, da jogada inesperada, da pedalada, da irreverência.

Exatamente por isso ele é o craque do tal futebol moderno - um futebol extremamente defensivo, que prefere contra-atacar a atacar, que prefere encontrar os grandes espaços a buscar criatividade para administrar os pequenos, que prefere, enfim, o careta à liberdade.

A rara exceção nesse universo de grandes sistemas defensivos atual é o time do Barcelona, no qual Kaká dificilmente brilharia. O Barcelona de Xavi, Iniesta e Messi defende com 11 jogadores e ataca com 10. Messi e seus companheiros dominam os pequenos espaços, criam jogadas em lugares do campo onde parece não haver vida, começam a marcar no campo de ataque a partir do momento que a bola é perdida - todos juntos, como em um saudável devaneio de Rinus Mitchell, treinador que fez história com o carrossel holandês da década de 70.

Entre Mitchell e Dunga há um oceano de campos de futebol. Dunga é o volante raçudo que prefere destruir do que construir. Com Dunga, o Brasil aprendeu a jogar encolhido para sair no contra-ataque. Seja contra a seleção do Zimbábue ou contra a Alemã. Com Dunga o resultado passou a ser muito mais importante do que o espetáculo. Ronaldinho Gaucho não é craque nesse sistema de jogo. Mas Kaká é. E não pode deixar de ser convocado se a ideia é explorar os grandes e tentadores espaços do contra-ataque - circunstância que pode dispensar Gaúchos, Messis e Ronaldos acima do peso.

Esse será o Brasil da África do Sul. Para quem gosta do resultado acima de qualquer risco, um time admirável. Para quem entende o futebol como espetáculo, um time que, mesmo campeão, não ficará na memória. Se, entre 11 de junho e 11 de julho, esse Brasil de Dunga prevalecer, Kaká será seu comandante e herói. E Messi, Cristiano Ronaldo, Iniesta, Rooney e Ronaldinho Gaúcho ficarão, pelo durante esse ciclo do futebol, à sombra do craque do futebol moderno e careta.

2 comentários:

  1. Os geniais dos espaços curtos, Ronaldo e Roonaldinho, não conseguiram vencer a retranca da Croácia em 2006. Tiveram de recorrer ao super chute de fora da área de Kaká. Ele não foi melhor do mundo e vai para sua terceira Copa a toa. É craque. Acho que o destaque do hepta deve ser ele, Dani Alves ou Robinho.

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  2. Kaká é o jogador Teflon. Nada gruda nele.

    A culpa de 2006 é do Ronaldinho e do Ronaldo, nunca dele que estava lá. Ele tá mal pacas DESDE O ANO PASSADO, mas é só falta de ritmo. Tudo por que ele é bom moço e os outros não?!

    E chute por chute fora da área, sou mais o do Ronaldinho contra a Inglaterra em 2002.

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