terça-feira, 29 de junho de 2010

Ilhas Maurício, 13 de julho de 2034

Terminou ontem a mais disputada Copa do Mundo da história. A vitória da Suíça por 2 x 0 diante do forte time japonês foi incontestável e repleta de lances emocionantes. Por isso muita gente tem preferido dizer que a suíça aplicou uma goleada no Japão - e a afirmação pode até ser discutível já que apenas um jogo dessa Copa teve placar diferente de 0x0, 1x1 ou 1x0 - mas o fato é que a partida foi absolutamente equilibrada, com os dois times buscando jogar bola (foram adoráveis 14 minutos de bola rolando) e tendo uma chance de gol cada.

O jogo também pode ser considerado histórico pelo baixo números de faltas – 196 apenas (112 cometidas por suíços), e porque, pela primeira vez em três meses, somente um jogador teve que ser retirado de campo pela ambulância (Mitsubishi passa bem depois de ter recebido doses de células-tronco que possibilitarão a regeneração da parte lesada de sua coluna vertebral.) Para lembrar, a média de jogadores severamente lesionados ou mortos em Copas é de 2,5 por partida desde 2018.

Os melhores momentos disponibilizados pela FIFA para hologramas cadastrados em seu site comprovam que os dois times jogaram, como se deve jogar, para não perder, e o fizeram de forma heróica. Dos 97 carrinhos aplicados pelo time japonês, pelo menos quatro deles poderiam ter sido eleitos os mais belos da Copa (A FIFA divulgará amanhã os vencedores dos prêmios de melhor carrinho, lateral melhor batido, escanteio melhor cobrado, melhor simulação de falta e falta menos violenta). Também amanhã a FIFA tornará disponível os replays de alguns lances duvidosos pelo custo de R$ 130 o décimo de segundo do download (mas apenas para torcedores cadastrados e que não tenham antecedentes de críticas à entidade).

O fato é que mais uma Copa chega ao fim, e essa, em especial, vai deixar saudade. Seja pelo lateral incrivelmente bem batido por Apple, atacante americano, pelo perfeito sistema defensivo do time Esloveno, que acabou eliminado sem sofrer nenhum gol em tempo normal (aliás, o time completa no próximo mês oito anos sem sofrer gols), seja pelo novo recorde estabelecido por argentinos, que conseguiram aplicar um drible completo, sem ser seguido de falta, no cada vez mais sólido time coreano (o drible aplicado por Alfajores sobre Fajitas ficará em nossa memória por muitos anos). Mais do que nunca o futebol levou a campo sua verdadeira essência: a defesa.

A grande decepção foi o time holandês, que insiste em jogar tocando a bola. Além de não terem sido capazes de completar nenhuma dessas tentativas de tabela ou triangulação (desde 2021 não se tem notícia de tabela ou triangulação que tenha deixado de ser interrompida por falta e ainda assim esse time insiste), quatro de seus jogadores continuam hospitalizados. Dois deles, ainda em coma, vitimas do inapelável soco na cabeça dado por atacantes da China e da Noruega que não aceitaram, como nenhum de nós aceitaria, a tentativa de um chapéu e de uma caneta nos jogos da fase classificatória. Não custa lembrar que os outros dois holandeses que perderam a perna esquerda por causa de carrinhos no meio de campo, bem aplicados, aliás, passam bem e devem voltar a jogar em seis meses, já que os implantes foram realizados com sucesso.

O que não pode deixar de ser dito é que está mais do que na hora de determinados jogadores, especialmente holandeses e argentinos, pararem de tentar aplicar o que chamamos de dribles desmoralizantes – caneta, chapéu, drible da vaca entre eles. Desde 2020, quando a FIFA publicou a lista de 10 dribles rigorosamente proibidos por afetar a masculinidade do atleta, essas tentativas vêm sendo rigorosamente punidas pelo trio de arbitragem, sempre soberano em suas decisões que, por lei-FIFA, não fazem uso de tecnologia. Tango, o portenho que tentou dar uma caneta no russo Smirnoff, ainda conseguiu ver o juiz sacando o vermelho antes de levar o esperado soco de Smirnoff e cair estatelado. Na sequência, Smirnoff, enquanto esmurrava o peito estufado, foi aplaudido de pé pelas 12 mil pessoas que lotavam o estádio, fazendo desse o momento mais emocionante e mágico da partida, que foi reiniciada logo depois que o sangue foi retirado da grama sintética.

Agora é esperar pela Copa de Fernando de Noronha, em 2038, ano em que o Brasil voltará a ter a chance de sediar a competição depois do colossal fiasco de 2014, quando perdeu para o Canadá, a seis meses da Copa, o direito de organizar a competição. O entrave marcou o rompimento entre o presidente da Conferedação Brasileira de Futebol – Ricardo Teixeira, que ficou 43 anos no poder – e a FIFA. Fato que, para muitos, determinou a queda da seleção brasileira no ranking; uma seleção que um dia já foi a primeira e hoje não está nem entre as 30.

3 comentários:

  1. Muito bom, o texto. Espero,sinceramente, que o texto seja um exageiro . Mas, pelo andar da carruagem, corremos o risco de termos algo parecido em 2034. Por essas e outras que eu torço pelos Maias e sua profecia de fim do mundo em 2012.

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  2. Ácido, irônico, sarcástico e, obviamente,
    incrível porque extremamente crítico.

    Genial, Milly.

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  3. Muito legal...
    E um certo ex-técnico da seleção brasileira, depois de assistir esse espetáculo dará sorrisos e pensará: "Eu sempre exerguei à frente de vocês, seus cagões de merda..."

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