segunda-feira, 31 de maio de 2010

No papo, tão careta quanto na bola

Estamos sem notícias da África do Sul. Temos um enorme contingente jornalístico por lá, mas faz quatro dias que falamos da bola da Copa e de nada mais. Ok, tem também a enigmática contusão de Kaká, Kaká evitando divididas, Kaká fazendo bico depois de entrada mais dura de Felipe Melo, Kaká jogando golfe na folga e voltando cedo para a concentração, Kaká de bom humor no treino. Mas é isso. Fragmentos de informação. Fragmentos desinteressantes de informação.

Pior: falamos à exaustão da bola da Copa, já um personagem nessa história, sem dizer se o atleta que a critica ou a elogia é patrocinado pela fabricante da bola (Adidas) ou por concorrentes. Essa sim, uma informação relevante. Porque, como tuitou ontem o jornalista e professor Edson Rossi, até que um atleta da Adidas critique a bola ou um atleta da Nike ou de outros concorrentes a elogie, não teremos notícia. Como nota deslocada de rodapé, vale dizer que a Nike é uma das patrocinadoras da seleção brasileira.

Fora isso, o que recebemos de lá são as excitantes repercussões das coletivas de imprensa, nas quais atletas e membros da comissão técnica são forçados a sentar naquela mesa em pedestal e, entre uma bufada e outra, responder a perguntas que eles deixam muito claro achar abobadas, tolas, invasivas. Salvo um ou outro jornalista que dispara questão mais direta, invocando a ira do palestrante, nada de muito animado acontece ali; não há como esperar uma pequena reflexão, uma frase que nos faça pensar, um diálogo construtivo, uma divertida insubordinação. Trata-se de um grupo, no verbo e no campo, absolutamente previsível. Tão previsível que, em desespero, jornalistas já começam a se entrevistar entre si.

E tão previsível que, quando Felipe Melo, que não é patrocinado pela Adidas, chama a bola de patricinha faz-se um alvoroço e saem todos correndo para mandar a genial e nada sexista aspa-que-vai-virar-manchete para as redações. Cinco minutos depois, lá está ela, em corpo grande, oferecida como informação para todos nós. Em terra de aspa inócua, uma simplesmente idiótica soa mesmo como notícia bombástica.

Mas tudo corre como programado; o que vemos, mais uma vez, é a coerência desse grupo: careta na bola e no papo. Diante da falta qualquer notícia interessante, que comecem logo as rodinhas de bobo, narradas e comentadas. Pelo menos veremos a bola, esse personagem sempre tão central, em ação.

3 comentários:

  1. Desse grupo não dá pra esperar muita coisa mesmo.
    Sugestâo à imprensa: "Entrevistem a bola!".

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  2. Mas pera lá? Puta chatice essa coisa de cobertura massiva em cima dos treinos, 2 semanas antes da copa. É óbvio que não há assunto. Também entendo que jornalistas ficam afoitos em dar alguma coisa que preste em meio a tanta baboseira. Mas aí é que entra a cristividade. Aí é a hora de buscar novas pautas, novas visões. Alegar falta de assunto pra voltar a malhar a seleção, o Dunga e tudo mais é querer justificar a própria opinião a qualquer custo. Eu entendo que a revolta e a opinião de muitos vai totalmente de encontro com o que pensa o Dunga, seu esquema e sua 'filosofia' (vamos assim dizer), mas essa malhação por qualquer coisa começa a ficar chata. Limitar toda uma Copa a essa briga Jornalistas x Dunga é no mínimo broxante.

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  3. O maior problema é mesmo o mau jornalismo esportivo brasileiro. Todos morrem de medo de ganharem a inimizade do entrevistado. É de dar vergonha.

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